Nova polêmica entre Leonardo Sale e Elizeu Rodrigues agita o meio gospel
Disputa entre líderes religiosos ganha novo capítulo após comentário público e vazamento de áudio privado, expondo rivalidades por seguidores, métodos de pregação e acusações mútuas

O mundo gospel brasileiro foi surpreendido na última semana com um novo capítulo na já conturbada relação entre dois nomes de peso no cenário evangélico: o pastor Leonardo Sale, líder da Igreja Pentecostal Templo de Milagres (IPTM), e o pastor Elizeu Rodrigues, conhecido por seu trabalho como biblicista e escritor na Assembleia de Deus.
A faísca que reacendeu a rivalidade entre os dois religiosos foi um comentário público feito por Elizeu Rodrigues na rede social do jovem pregador Miguel Oliveira, que recentemente se tornou seu mentorado. No comentário, que viralizou rapidamente, Elizeu escreveu: “Na nossa primeira aula eu lhe disse: ‘Fuja do Pablo Marçal, fuja do Leonardo Sale, fuja de Agenor Duque'”, sugerindo que Miguel deveria se manter afastado desses líderes.
A resposta de Leonardo Sale não demorou e veio na forma de uma exposição surpreendente: o vazamento de uma ligação telefônica de 35 minutos entre os dois pastores, gravada há alguns meses, quando tentavam um entendimento após um embate anterior. Na gravação, que rapidamente circulou pelas redes sociais e canais de fofoca gospel, Elizeu Rodrigues é ouvido com um tom muito mais conciliador do que costuma usar em público.
Um dos trechos mais polêmicos da conversa exposta mostra Elizeu reconhecendo que ambos têm dons diferentes, mas complementares. “Eu fui chamado para pregar e ensinar. O seu dom, pelo que entendo, é mais voltado à cura e à expulsão de demônios”, diz Rodrigues na gravação. Em outro momento revelador, o pastor chega a afirmar: “Tenho 20 mil pessoas no meu Telegram e preciso batalhar para vender meu curso. Eu aproveito a dor do meu público.”
Para especialistas em comunicação religiosa, a situação expõe um fenômeno cada vez mais comum no meio evangélico: a transformação de líderes religiosos em influenciadores digitais, com as tensões típicas desse universo. “Estamos vendo uma disputa não apenas teológica, mas por audiência, por relevância digital e, consequentemente, por recursos financeiros”, explica Marcelo Carneiro, pesquisador de mídia e religião da PUC-Rio.
A rivalidade entre os dois não é recente. Em 2023, eles protagonizaram uma tensa discussão ao vivo em uma transmissão no Instagram, que durou mais de uma hora e dividiu opiniões entre seus seguidores. Posteriormente, ambos participaram de um evento chamado “Militantes Missionários” em Crato, Ceará, onde a diferença em seus estilos ministeriais ficou evidente quando, segundo relatos, a pregação de Sale resultou em manifestações espirituais intensas, contrastando com a abordagem mais contida de Rodrigues.
Este novo episódio ganhou ainda mais repercussão quando, após o vazamento da ligação, Elizeu Rodrigues usou seus Stories no Instagram para se posicionar, citando trechos da carta do apóstolo Paulo a Tito: “Ao homem herege, depois de uma admoestação e outra admoestação, evita-o.” A mensagem foi interpretada como um sinal de que as tentativas de reconciliação haviam se esgotado.
Leonardo Sale, por sua vez, respondeu às críticas sobre ter vazado uma conversa privada em recente participação no “Eu Acredito Podcast”. “Não acho certo porque até as pessoas vão ficar com medo agora. Vou me ligar, vou ficar começando a gravar? Eu nunca fiz isso na minha vida”, disse o pastor, acrescentando que não tinha intenção de expor o número de telefone de Elizeu, o que acabou acontecendo durante a divulgação.
O jovem Miguel Oliveira, que involuntariamente se tornou pivô da mais recente discussão, também se pronunciou no mesmo podcast, afirmando que considerou “desnecessário” o comentário de Elizeu Rodrigues em sua postagem com Agenor Duque.
No centro da disputa estão visões diferentes sobre o ministério pastoral. Enquanto Elizeu Rodrigues se notabiliza por uma abordagem mais focada no ensino bíblico e na teologia, Leonardo Sale é conhecido por cultos onde ocorrem manifestações espirituais intensas e revelações proféticas, muitas vezes carregadas de emoção e até mesmo momentos de humor.
“O que vemos é um embate entre dois modelos de liderança religiosa: uma mais tradicional, voltada ao estudo das Escrituras, e outra mais carismática, focada na experiência espiritual direta”, analisa a socióloga Amanda Pereira, pesquisadora de novos movimentos religiosos.
Para os fiéis, essa disputa pública entre líderes gera preocupação. “É triste ver homens de Deus brigando assim na internet. Isso só dá argumento para quem critica a igreja”, comenta Maria Sousa, frequentadora de uma igreja evangélica em São Paulo, refletindo um sentimento comum entre os seguidores.
O caso também levanta questões éticas sobre privacidade e conduta pastoral. A exposição de conversas privadas, mesmo em um contexto de defesa pessoal, tem sido questionada por outros líderes religiosos como um comportamento inadequado para quem ocupa posição de liderança espiritual.
Aos 33 anos, com 33 igrejas abertas e milhões de seguidores nas redes sociais, Leonardo Sale continua a expandir sua influência, apesar das polêmicas. Já Elizeu Rodrigues mantém sua posição como uma voz respeitada em círculos mais tradicionais, especialmente como pastor auxiliar na Assembleia de Deus, e através da venda de cursos e livros para formação teológica.
Enquanto a poeira dessa nova controvérsia não baixa, uma coisa parece certa: no competitivo mercado religioso brasileiro, onde as redes sociais amplificam discursos e conflitos, a linha entre ministério espiritual e negócio tem se tornado cada vez mais tênue – e as consequências dessas disputas públicas afetam não apenas os envolvidos, mas toda a percepção da comunidade evangélica perante a sociedade.