Família Bezerra da Costa: O Império que Divide a Assembleia de Deus

A três meses da 47ª Assembleia Geral Ordinária (AGO) da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), marcada para abril de 2025 em São Paulo, a maior denominação evangélica do país fervilha em debates sobre seu futuro. No centro da polêmica está a família Bezerra da Costa, que há décadas comanda os rumos da instituição.

“É Hora de Mudança”

“É hora de mudança”, desabafa o pastor João Silva, de uma pequena congregação no interior de Minas Gerais. “Não podemos mais aceitar que uma única família controle tudo. A igreja é do povo, não de uma dinastia.”

O patriarca José Wellington Bezerra da Costa, aos 90 anos, ainda exerce forte influência nos bastidores, mesmo após deixar a presidência da CGADB em 2017, cargo que ocupou por quase 30 anos. Seu filho, José Wellington Costa Junior, assumiu o posto, perpetuando o domínio familiar.

Críticas à Concentração de Poder

“Eles tratam a igreja como um negócio de família”, critica Maria Souza, membro há 40 anos. “Temos deputados, vereadores, todos parentes. Isso não é o que Jesus ensinou.”

A concentração de poder tem gerado cisões. Em 2017, um grupo dissidente criou a Convenção da Assembleia de Deus no Brasil (CADB), liderada pelo pastor Samuel Câmara. “Precisávamos de ar fresco, de novas ideias”, justifica Câmara. “A igreja não pode ficar estagnada.”

A Divisão dos Fiéis

Nas ruas ao redor do templo-sede em São Paulo, onde ocorrerá a AGO, os fiéis se dividem. “Os Wellington fizeram muito pela igreja”, defende o diácono Pedro Oliveira. “Mas talvez seja hora de dar chance a outros líderes.”

A tensão cresce à medida que a data da assembleia se aproxima. Rumores de articulações para formar chapas de oposição circulam nos grupos de WhatsApp. “Queremos transparência nas contas e mais participação das bases”, afirma um pastor que pediu anonimato, temendo represálias.

O Silêncio da Família Bezerra da Costa

Enquanto isso, a família Bezerra da Costa mantém-se em silêncio. Procurada pela reportagem, não quis se manifestar. Nos cultos, pregam união e continuidade.

O Futuro da Assembleia de Deus

“Só Deus sabe o que vai acontecer em abril”, suspira dona Francisca, fiel há 50 anos, ao sair do culto de domingo. “Que seja feita a vontade Dele, não a dos homens.”

A Assembleia de Deus, que já foi símbolo de renovação no cenário evangélico brasileiro, agora se vê diante de seu maior desafio: renovar-se internamente ou manter as estruturas de poder que a conduziram até aqui. O futuro da maior denominação evangélica do país será decidido em abril, sob os olhares atentos de milhões de fiéis.