Proibições e Desculpas: A Crise da Igreja Pentecostal Deus é Amor

Comunidade evangélica debate inclusão e respeito à diversidade após comunicado polêmico.

Imagem de uma pessoa negra com cabelo afro lendo um comunicado intitulado 'COMUNICADO DEUS É AMOR'. A expressão da pessoa é de tristeza, com lágrimas escorrendo pelo rosto, enquanto segura uma folha de papel - Foto/ Reprodução
Imagem de uma pessoa negra com cabelo afro lendo um comunicado intitulado ‘COMUNICADO DEUS É AMOR’. A expressão da pessoa é de tristeza, com lágrimas escorrendo pelo rosto, enquanto segura uma folha de papel – Foto/ Reprodução

A comunidade evangélica brasileira foi sacudida por uma polêmica que ultrapassou os muros das igrejas e ganhou as redes sociais. A Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA), uma das maiores denominações evangélicas do país, divulgou um comunicado interno que proibia, entre outras coisas, o uso de “penteados afro” por seus fiéis.

“Não será mais tolerado o uso de roupas justas, curtas, sensuais, transparentes, rachadas, decotadas, bem como o uso de maquiagens, pintura nos olhos, cílios postiços, sobrancelhas de henna, pintura nas unhas, o corte de cabelo para as mulheres, o uso de calça comprida e saltos altos”, dizia o documento. Para os homens, a lista de proibições incluía “manter a barba por fazer, assim como o penteado afro e o uso de calças coladas ao corpo”.


Reação e denúncia por racismo

A reação foi imediata e intensa. Nas redes sociais, usuários expressaram sua indignação. “Proibir o penteado afro é negar a identidade de uma parcela significativa de seus fiéis”, comentou um internauta no Instagram. O Movimento Negro Evangélico não ficou calado e decidiu agir, protocolando uma notícia-crime junto ao Ministério Público de São Paulo.

“Como pessoas negras evangélicas, não podemos mais tolerar que a Bíblia seja utilizada para reproduzir uma violência tão grave como o racismo”, declarou Jackson Augusto, coordenador nacional do Movimento Negro Evangélico. “A prática de usar versículos bíblicos para violar a humanidade das pessoas negras não é algo recente. Ao longo da história, teorias como a maldição de Cam foram usadas para justificar a escravidão africana e a colonização.”

A denúncia cita o Artigo 20 da Lei do Racismo (7.716/1989), que criminaliza atos de discriminação por raça, cor ou etnia. José Vitor, coordenador de Incidência Política do movimento, ressaltou que a ação vai além da IPDA: “Essa notícia-crime é importante porque sabemos que casos semelhantes acontecem em várias igrejas. Quando decidimos levar essa questão ao Ministério Público, foi para delimitar até onde essas práticas discriminatórias podem ir.”


Desculpas e recuo da IPDA

Diante da repercussão negativa, a IPDA recuou. Em um novo comunicado, a igreja pediu desculpas, afirmando que o texto anterior “não reflete o que a diretoria queria, de fato, comunicar”. A instituição reiterou seu “zelo e amor pela poderosa palavra de Deus e pelo bom testemunho dos fiéis”, mas reconheceu que as palavras mal redigidas podem ter ferido alguns irmãos em Cristo.


Racismo estrutural e inclusão nas igrejas

O caso levantou questões importantes sobre racismo estrutural nas instituições religiosas e a necessidade de maior inclusão e respeito à diversidade nas comunidades evangélicas. Para muitos, é um momento de reflexão sobre como as igrejas podem acolher a diversidade e respeitar as identidades de todos os fiéis.

Enquanto isso, nas congregações da IPDA pelo Brasil, fiéis negros se perguntam: até quando terão que escolher entre sua fé e sua identidade? A resposta a essa pergunta pode definir o futuro não apenas da IPDA, mas de todo o movimento evangélico brasileiro.

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