Um piquenique externo, preparado na última quinta-feira pelo Colégio Evangélico Alberto Torres, em Lajeado, no Vale do Taquari, para alunos do 8º ano, virou alvo de investigação do Ministério Público. Relatos de testemunhas apontaram que o grupo de crianças, com idades entre 12 e 13 anos, ingeriu álcool, ecstasy (psicotrópico sintético) e Viagra (remédio para impotência sexual), o que demandou atendimento médico. Um suposto abuso sexual também pode ter ocorrido, de acordo com vídeos e áudios que circularam em redes sociais da região.
Em reunião na tarde dessa terça-feira, o promotor Carlos Augusto Fioriolli estipulou que a instituição de ensino entregue ao Ministério Público documentos que constituam provas sobre os envolvidos no piquenique, assim como a identificação das crianças e dos pais. “É nessa etapa que estamos trabalhando, com o reconhecimento da conduta de cada personagem para, posteriormente, verificar a gravidade e aplicar a medida socioeducativa”, completa o promotor.
Em entrevista à Rádio Guaíba, Fioriolli explicou que os funcionários do Ministério Público começaram a receber mensagens em redes sociais e em grupos de WhatsApp com áudios, fotos e vídeos do evento promovido pela escola, inclusive o que incluía uma jovem sendo abusada por um colega. “Começamos a fazer um trabalho quase jornalístico, de entender quem, o que e onde exatamente aquelas informações estavam circulando e, principalmente, de onde elas estavam saindo”.
O promotor ainda contou à reportagem que, ainda na sexta-feira, encaminhou uma notificação ao Hospital Bruno Born, à Unimed e à Unidade de Pronto Atendimento do município para saber se alguma criança havia dado entrada com as características citadas nos áudios, como abuso e embriaguez. “Com a afirmação de que na UPA um menino de 13 anos havia ficado internado durante o final de semana, pudemos dar andamento às investigações”, completou Fioriolli.
Já com algumas informações e provas confirmando o ocorrido, o Ministério Público reuniu-se com a direção da escola e exigiu imagens das câmeras de segurança da instituição. “Durante esse período, enquanto estamos fazendo a análise dos documentos, já ouvimos dois jovens e seus pais para ternarmos compreender toda essa situação e, partir dali, buscarmos a conduta que cada um teve antes do evento na combinação do que levar ao piquenique, bem como a conduta que cada um teve diante das falas e das filmagens”.
Conforme o promotor, entender a conduta de cada jovem no evento é fundamental para que as medidas de proteção e socioeducativas sejam aplicadas com maior ou menor intensidade. “Podemos ter, nesse caso, abuso sexual, tráfico de drogas e outros diversos tipos de infrações que podem ser considerados crimes ou atos infracionais. Estamos, inclusive, pedindo exames toxicológicos nessas crianças para identificar o tipo de toxina que há no organismo”.
O promotor disse ainda que, além do âmbito do Direito, o caso precisa ser analisado pelo viés psicológico e do Estatuto da Criança e do Adolescente para compreender e identificar por que um grupo de jovens promoveu, filmou e compartilhou nas redes sociais o que ocorreu durante o piquenique. “É um seleto grupo de crianças, com famílias estruturadas, com condições financeiras e é preciso entender o que os motivou a fazer e mostrar à grande sociedade. Isso é importante pelo aspecto social e não só pela responsabilidade dos pais e omissão e das ações dos filhos, mas exatamente para conhecer o que está acontecendo com certos grupos de jovens que, além de quebrar a regra, querem mostrar que ela está sendo quebrada”, finalizou Fioriolli.
A reportagem entrou em contato com a instituição de ensino, que afirmou que a atividade, que é anual, ocorreu na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). A escola garante estar auxiliando o Ministério Público na identificação dos alunos e dos responsáveis. Esclarece, ainda, que 14 estudantes foram suspensos, por três dias.